Notícias do Equador

Creio que ouvi falar do Intercâmbio-ABUB pela primeira vez num CR (Conselho Regional) que ocorreu na minha cidade, Macaé-RJ, em 2011. Mas me lembro que não entendi muito bem o que significava – talvez pela sonolência comum àqueles que organizam e recebem um CR (risos).

De aí, escutei outras vezes sobre as experiências de alguns participantes ao longo dos anos seguintes. Sempre me pareciam interessantes, mas eu sinceramente nunca havia pensado em participar. E não havia uma razão para isso: simplesmente não era algo que eu tivesse em mente.

Porém, no início de 2014, quando vi a notícia no site da ABUB sobre a abertura de novo edital de intercâmbio, meu coração começou a bater aceleradamente. Uma emoção inesperada. Li e reli as informações e fiquei com aquela ideia na cabeça: e se eu tentasse?

Bem, conhecendo e considerando Jeremias 17 – “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?” –, fui [tentar] orar e compartilhar a ideia com minha família, amigos, etc., a fim de procurar entender se o coração acelerado indicava algo de fato bom.

Era um período difícil de minha vida, já fazia meses. Era estranho e difícil para mim, por exemplo, pensar na possibilidade de “deixar” minha família naquele momento. Apesar disso, a ideia do intercâmbio, de forma paradoxal, ao mesmo tempo em que parecia não “encaixar”, também fazia muito sentido quando eu olhava para dentro de mim, para o caminho trilhado até ali e para Deus (e cabe aqui fazer a observação de que nenhuma dessas três coisas está separada da outra – olhar para elas era olhar para um todo).

Por fim, resolvi enviar os formulários necessários e aguardar o fim do processo de escolha da dupla que seguiria para a Noruega e, posteriormente, Equador. Veio a entrevista por Skype e eu fui sincera quanto a tudo que se passava em minha vida. Pensei que isso talvez pudesse levar a que não me escolhessem, mas não foi o que ocorreu. E, numa Segunda-Feira, recebi a ligação do Patrick chamando-me para ser uma das participantes desse projeto. Pedi um tempo para que eu desse a resposta final… Conversei um pouco mais com meus pais e amigos. Choramos juntos e decidimos juntos. E aí estava: eu iria.

Não foi fácil decidir. Eu buscava a “paz de Deus que é o árbitro em nossos corações”, mas isso parecia se misturar com as dúvidas desse mesmo coração. Percebi que essa paz estava ali, ainda que não parecesse muito a uma ideia padrão de paz. Estava ali muito mais por me impulsar fortemente do que por me deixar “zen”. Parece que a paz de Deus é multiforme assim como o é sua graça – é só um palpite.

O processo de preparo não foi muito fácil, ainda estavam aí preocupações quanto ao que “ficava” e quanto ao meu estado psicológico, que me incomodava naquela época. Mas Deus foi dando forças e guiando cada coisa. Ele providenciou inclusive pessoas para estarem junto à minha família. E, no início de Agosto, pegamos o voo eu e Nívea Damaceno em direção ao Hald (www.hald.no), a escola internacional que nos esperava na Noruega.

Aí aprendi muito, não só com os estudos desenvolvidos, mas principalmente com as pessoas e as experiências vividas com elas. Em dois meses, tive a benção de fazer amigos, mesmo após pouco tempo. Aprendi mais sobre mim mesma, sobre outras culturas (estavam aí representados Quênia, Tanzânia, Uganda, Madagascar, Peru, Equado, Tailândia, China, Laos, França, Alemanha, Noruega), sobre pessoas e sobre Deus. Foi um tempo inesquecível. Sinceramente, difícil colocar em palavras!

Então, no dia 27 de Setembro, partimos eu e Nívea para o Equador, onde trabalharíamos com o grupo de CIEE daí – se chama CECE – Comunidad de Estudiantes Cristianos del Ecuador – e, posteriormente, seriamos também voluntárias em uma fundação (https://www.facebook.com/pages/Fundacion-Dunamis/297443653697079?fref=ts).

E aqui seguimos. Vivemos na cidade de Quito e trabalhamos principalmente com os grupos universitários daqui, apesar de já havermos estado com grupos de outras cidades. Há um “tantão” de situações e experiências que eu poderia contar sobre esse tempo aqui, mas o que farei é deixar este resumo abaixo, o qual provavelmente não fará jus a todo o vivido, porém espero que traga algo bom aos corações daqueles que o lerem:

 

Muitas coisas se passaram durante este período aqui no Equador… Aulas de espanhol todas as manhãs por 3 meses, acompanhamento dos grupos nas universidades, discipulado com estudantes, intercambio de conhecimentos/vida, muita cultura, música, encontros/conferências/debates, acampamento, estudos, oficinas, viagens a outras partes além de Quito (como para visitar o grupo Guayaquil, por exemplo), novas amizades, assembleia nacional, trabalho na fundação, organização de uma escalada (https://www.facebook.com/events/905930652770532/), futebol (na universidade e com a galera da minha host family), montanhas/vulcões, infield no Brasil (reencontro com os amigos do Hald que estavam no Brasil),  ida ao Peru para encontrar amigas da Noruega e conhecer o projeto delas de lá… E, em meio a tudo isso, desafios; tempos de alegria, tempos difíceis (não necessariamente separados); tempo de sentir saudade, tempo de não senti-la; tempo de aprender, tempo de ensinar; tempo de estar só (e sentir-se só), tempo de estar junto/conhecer; tempo de servir a 1000 por hora, tempo de descansar; tempo de silencio, tempo de sons…

Hoje, Equador já é parte de mim e eu igualmente me sinto parte do Equador. São parte de mim as pessoas que fizeram e fazem parte da minha vida por aqui, os vulcões, as universidades… Se bem que, ainda mais a partir deste tempo de intercambio, a verdade é que às vezes me sinto parte de “lugar nenhum” ou de “todo lugar” – o bom é que isso faz sentido no Reino de Deus.

Já não sou mais a mesma Rute. Passei por experiências e apreendi aprendizagens que me fizeram crescer: sempre por graça, misericórdia, paciência e pela eterna bondade de Deus, quem nunca me deixou nem nunca me deixará. De fato, o crescimento nos custa deixar partes nossas para trás (por exemplo, quando alguém cresce, perde roupas que já não lhe cabem) e adquirir outras novas (novas roupas), ou ao menos ter melhoradas as partes que continuam a existir. Muitas vezes não é fácil, mas vale a pena, especialmente com o suporte deste Deus tão sábio e cheio de amor. Ele que conhece todas as coisas e é quem pode verdadeiramente guiar-nos pelo melhor caminho, ainda que algumas vezes possa não parecer o melhor aos nossos olhos. E isso não é abstrato – o escrevo porque tem tudo a ver com minha experiência ao longo deste intercâmbio.

Não sei… Certamente poderia escrever muitas outras coisas, citar nomes e etc. Mas este é um pequeno resumo que, finalmente, me saiu nesta noite, depois de muitos meses. Deus tem o tempo certo para todo propósito debaixo do céu (Eclesiastes 3).

O tempo de intercâmbio já se aproxima do fim, mas, na eternidade, permanece e me faz levar um agradecimento sem fim no coração, tanto pelas dificuldades quanto pelos tempos mais tranquilos e divertidos. Gratidão a Deus e a todas as pessoas e organizações – ou seja, pessoas – envolvidas nisso (ABUB, Hald, NKSS, Corpo de Paz norueguês, CECE).

Os misteriosos caminhos de Deus são perfeitos e às vezes podem incluir outros “cantos do mundo” pra gente crescer em graça. Acho que foi o que rolou. E em Maio estamos de volta ao amado “canto-Brasil”!

*Rute Curvelo é estudante da ABU Macaé (RJ)

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