Apenas tudo

Por Reinaldo Percinoto Junior

“Reflita no que estou dizendo, pois o Senhor lhe dará entendimento em tudo”. 2 Timóteo 2.7

“Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma, de todo o seu entendimento e de todas as suas forças”. Marcos 12:30

Um dos principais desafios em nossa caminhada cristã continua a ser a busca por um relacionamento mais harmonioso e equilibrado entre os vários componentes de nossa identidade (ser) e de nossa prática cotidiana (fazer). Em termos gerais nossa tendência, muitas vezes em resposta a situações circunstanciais, é a de nos abrigarmos mais perto de um ou de outro extremo, e isto acaba dificultando este viver mais integral (integrado no ser e integrador no fazer).

A relação entre a fé e a razão, entre o crer e o pensar, pode exemplificar bem este desafio, tornando-se uma “arena” para uma ferrenha luta em busca de conciliação. E nessa “luta”, como já mencionado, alguns tendem ao anti-intelectualismo estéril, como se a vivência da fé excluísse automaticamente qualquer “aspecto racional”; e outros se aproximam de um “racionalismo” igualmente estéril, que decreta a prisão da fé aos escrutínios da razão.

Crer é também pensar

O apóstolo Paulo buscou chamar a atenção de seu jovem discípulo, que ficara em Éfeso, para este importante equilíbrio bíblico envolvendo o esforço humano e a ação divina. Pois, para Timóteo compreender a verdade presente nos ensinamentos do apóstolo, dois processos se farão necessários – um humano e outro divino: reflexão (humana) e iluminação (divina).

Como movimento cristão militando na esfera estudantil, acabamos nos encontrando no “olho do furacão” desta discussão. Claro, aqui só podemos lidar com este assunto de uma forma mais superficial, pois ele abriga várias nuances que podem gerar “desafios colaterais”, ou seja, elementos que vão acabar se tornando tanto complicadores quanto oportunidades para a nossa tarefa evangelizadora e discipuladora.

Como uma contribuição a esta discussão, a ABU Editora recentemente lançou, com o apoio da Editora Ultimato, uma edição especial e comemorativa do clássico Crer é também pensar, de John Stott. O livro, publicado originalmente em 1972 na Inglaterra, tinha como um de seus objetivos desafiar seus leitores a buscarem um posicionamento mais equilibrado no que diz respeito ao papel da nossa mente (razão) na vida cristã, então relegada a uma posição inferior. Como podemos facilmente perceber, o livro continua atual em nossos dias! E alguns grupos da ABUB, como a ABU São Paulo, resolveram homenagear a importância do pensamento e do legado de John Stott, utilizando este título como tema para o ano de 2012.

O título em português deste pequeno e essencial livro acabou se transformando numa espécie de “expressão axiomática” para nos lembrar constantemente de que não devemos separar aquilo que Deus nunca separou! Aquilo que Ele criou para ter integralidade. Neste caso específico estamos falando da relação entre fé e razão, mas também podemos pensar em uma amplitude muito maior, como em “crer é também amar” (cuidado social), ou “crer é também preservar” (cuidado ambiental). Enfim, poderíamos “brincar” com esse “axioma”, pensando em várias atividades nas quais estamos envolvidos no nosso dia-a-dia; mas o fundamental é levarmos a sério este chamado, que perpassa toda a Escritura, para considerarmos todas as áreas de nossa vida a partir de uma perspectiva integrada e integradora. E isso só é possível em e por Cristo! Pois “nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra”, e “foi do agrado de Deus que nele habitasse toda a plenitude, e por meio dele reconciliasse consigo todas as coisas” (Colossenses 1.15-20).

Nossa preocupação com esta perspectiva integral, junto com nosso desejo de que os estudantes entendam melhor esse chamado bíblico, estarão presentes nos próximos dois encontros da ABUB – o Congresso Nacional 2012 e os Cursos de Férias, onde estaremos estudando respectivamente a primeira epístola de João e a epístola de Tiago. Ambas as cartas, enquanto enfatizam a importância da correta doutrina (ortodoxia), também insistem na igual importância de uma correta prática diária (ortopraxia). Como nos lembrou John Stott, “não adianta afirmarmos que conhecemos a Deus e que somos seus filhos se nossa vida não for caracterizada por justiça e amor, em adição à nossa ortodoxia cristológica” (A verdade do Evangelho, ABU Editora, p. 105).

Gostaria de terminar esta reflexão com uma bela e antiga oração utilizada antes da leitura das Escrituras (citada por Paul Freston em Nem monge nem executivo, Ed. Ultimato, p. 8):

“Senhor, faze brilhar em nossos corações a luz incorrupta do teu divino conhecimento, e abre os olhos da nossa mente à compreensão do teu evangelho. Implanta em nós o temor dos teus mandamentos, para que sigamos um modo espiritual de viver, pensando e fazendo todas as coisas de maneira agradável a ti”.

Amém.

Reinaldo Percinoto Junior
Secretário Geral da ABUB

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