E se pudéssemos mudar o mundo?

Por Giovanna Amaral

Movimentos estudantis do mundo todo, ligados à IFES (sigla em inglês para Comunidade Internacional de Estudantes Evangélicos), anualmente têm sido convocados para separar um dia com o propósito de se unir em oração pela obra estudantil e pelo avanço do Reino de Deus nas escolas e universidades mundo afora.

“Desde o início do dia em Tonga, até o fim do dia em Samoa”” – frase que se vê no interessante vídeo que a IFES preparou para o Dia Mundial do Estudante. A proposta deste evento anual, é que, por 48 horas, estudantes, profissionais e apoiadores da obra estudantil dediquem um tempo especial para aquilo que é uma dimensão fundamental da vida cristã: a oração, como expressão de uma relação com o Deus criador do universo.

Ao final deste curto vídeo, é lançada uma pergunta-provocação, que proponho que seja alvo de nossa reflexão antes, durante e depois dos momentos em que estivermos, assim dizendo, de joelhos. Pergunta-se: “E se você pudesse mudar o mundo?”

Por mais ingênua e simples que possa parecer essa pergunta para alguns de nós, acho que ela precisa ser levada a sério, e nos levar a ações e posturas que tenham o compromisso com mudanças profundas nas realidades injustas e marcadas pelo pecado que vemos e vivenciamos todos os dias, e sobre as quais, às vezes, quase parece redundante falar.

Nos últimos meses temos vivenciado, em escala global, grandes mobilizações de pessoas e grupos que estão clamando por justiça, igualdade de oportunidades, e assim denunciando os efeitos perversos para a vida de milhões de pessoas que a forma como estamos organizados social, política e economicamente tem trazido. Da primavera árabe ao movimento dos indignados na Espanha, dos ocupantes de Wall Street aos remanescentes indígenas de Belo Monte, temos observado o que parece ser um momento importante para se colocar “uma interrogação” sobre quais têm sido os caminhos que enquanto humanidade temos escolhido. O profeta Amós, amplamente estudado nos Cursos de Férias de julho, parece ter vivido em período semelhante de decadência, de injustiça e de descuido com o outro, de forma que seu chamado ao arrependimento das práticas injustas de Israel parece muito relevante hoje.

O contexto das universidades no Brasil (para não dizer de outras realidades, como a que se percebe no Chile) também está marcado por grande agitação, onde os processos de precarização do ensino, de acentuação de desigualdades no acesso e de dificuldades de permanência no ensino superior estão levando muitos estudantes, funcionários e docentes a se mobilizarem – em muitas realidades em torno de greves – e assim colocarem no debate público os desafios e rumos da educação no país.

Nesse contexto de efervescência, qual tem sido nossa postura enquanto cristãos, evangélicos, abeuenses, universitários? Temos participado destes e/ou de outros debates, sendo profetas de nossa própria geração, ou estamos alheios a tudo isso? Nossas orações nos tem conduzido a que ações? Temos sido céticos ou omissos (ou ainda mais, defendemos o ‘deixa acontecer’)? Ou talvez, a pergunta “E se…” está nos incomodando o suficiente para nos tirar do conforto e nos levar a um engajamento efetivo, concreto e consciente?

Para aqueles céticos que não acreditam que sua ação possa mudar alguma coisa, é bom lembrarmos a famosa frase da antropóloga Margaret Mead, que diz: “Nunca duvide que um pequeno grupo de cidadãos conscientes e comprometidos pode mudar o mundo; na verdade, é a única coisa que pode”.

What if you could change the world?

E na ABU, que podemos fazer? Que espaços de conversa e de debate podemos ter para desenvolver estes e outros temas? Nos eventos locais e regionais que se aproximam, será que conseguimos reservar algum tempo para discutir como estão as nossas universidades, nosso país? Para um início de conversa, os textos de Diego Ferreira e de Vinoth Ramachandra podem nos ajudar nessas provocações.

O chamado à oração é também um chamado a um profundo e consciente envolvimento, a participar, ser sal e luz, e assim também anunciar a chegada do Reino, celebrando que, mesmo que as coisas estejam catastróficas, Deus está restaurando sua criação, e nos chama para ser parte desta Sua missão.

Que o santo incômodo esteja sempre presente entre nós, e que este sentimento seja também uma forma de trazer à memória Aquele que espalhou incômodos entre os seus.

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