Lições de início de ano

Por Patrick Timmer, Secretário Geral Adjunto da ABUB

Já estamos em abril, e o ano parece que mal começou.

É verdade que o Carnaval foi mais tarde neste ano e, talvez por isso, temos a sensação de que três meses já se foram e nem os vimos passar direito. O fato é: muita água já rolou.

‘Balanços’ geralmente acontecem ao final das coisas. Ao fim de um projeto, avalia-se. Ao fim de um período, se reflete sobre o que passou. Pode soar estranho, portanto, falar de um balanço de começo de ano.

Em meio ao contexto estudantil, porém, esse ‘balanço do começo’ tem seu lugar, uma vez que o período inicial do ano é sempre marcado por intensas movimentações nas escolas e universidades brasileiras. Aulas que recomeçam, grupos que voltam a se encontrar, chapas ou candidaturas eleitas que assumem seus postos – enfim, o burburinho da vida estudantil retorna.

Dois estudantes conversam

Na ABUB essa realidade é em boa medida semelhante – como é mister, uma vez que é um movimento que entende que no coração do seu chamado está o propósito de se envolver de maneira profunda com a vida e dinâmica estudantis.

Nessa Volta pelo movimento, queremos refletir sobre três acontecimentos desse início do ano, olhando para quais lições podemos tirar deles.

 

Ministério com estudantes internacionais

Em Campinas, ainda no final do ano passado, um grupo de estudantes ligados à ABU – e também a outros grupos cristãos – percebendo que a cada ano chegam dezenas de estudantes estrangeiros à Unicamp, decidiu abrir as portas de uma das repúblicas que funciona como apoio ao grupo da ABU para que semanalmente esses estudantes possam se encontrar, praticar seu incipiente português, fazer novas amizades, e assim se sentirem acolhidos enquanto distantes de sua terra natal. Cada semana, também, alguém prepara o jantar compartilhando seu paladar e um pouco de sua cultura com os demais.

Poucos meses depois, este “jantar de estrangeiros”, iniciativa que pode ter começado aparentemente despretensiosa, desdobrou-se em um projeto maior. Alguns desses estudantes que promoviam os encontros foram protagonistas na criação da “Associação dos Intercambistas da Unicamp”, que está apoiando a recepção dos alunos estrangeiros que vêm estudar na universidade. Essa organização é hoje o principal interlocutor da reitoria da universidade com relação às atividades de acolhimento destes.

Em muitas outras cidades do Brasil, grupos de ABU também têm tido a prática de promover atividades de recepção e de acolhimento aos alunos ingressantes, e em vários lugares também são conhecidos pela comunidade universitária.

Iniciativas como estas apontam para uma dimensão fundamental do ministério entre estudantes: a busca por um envolvimento com o dia-a-dia das universidades e escolas, e de uma vivência missionária marcada pela compreensão da radicalidade da encarnação.
São oportunidades que os grupos têm de olhar para fora, de trabalhar em parceria e de ser de fato uma comunidade missionária. O chamado ao serviço, a atos que demonstrem o amor e ao acolhimento devem ser características dessa comunidade. E, ao assim viverem, comunicam o amor de Deus, não apenas em palavras, mas também por meio de ações.

 

Conselho Nacional de Juventude

Também no começo desse ano ficamos contentes em marcar a passagem para o nosso quarto ano como representantes da sociedade civil no Conselho Nacional de Juventude (Conjuve). Desde 2008, a ABUB ocupa uma cadeira como conselheira no CONJUVE, na categoria de movimentos religiosos, apoiando na avaliação e análise das Políticas Públicas de Juventude (PPJ) do Governo Federal.

Em diversos canais da ABUB foram divulgadas notícias relacionadas à participação da ABUB na primeira reunião do Conjuve neste ano. Esse recomeço de atividades do Conselho também trouxe novidades e destaques, como a entrada de uma nova pessoa como titular da cadeira da ABU, novas ideias de como envolver o movimento nas discussões sobre PPJ’s, e a proximidade da 2ª Conferência Nacional de Políticas Públicas para a Juventude, marcada para o segundo semestre deste ano.

Estes eventos e a perspectiva de um ano movimentado em torno desta temática trazem à tona outras questões mais amplas, para serem pensadas e encaradas com seriedade. Qual é o papel da juventude religiosa na discussão sobre as políticas públicas de/para/com a juventude? De que forma podemos, enquanto ABU, ampliar a participação da juventude nesse processo e somar esforços para a elaboração de políticas públicas que, por exemplo, diminuam a desigualdade, a violência e o racismo no Brasil, especialmente entre os jovens?

Ademais, a presença da ABU no CONJUVE, hoje talvez uma das principais formas concretas de envolvimento da ABU com a transformação sócio-política do país, também pode nos instigar a pensar sobre quais outras oportunidades de engajamento existem e dos quais entendemos que Deus está nos chamando a participar.

Que outros espaços na universidade, por exemplo, deveríamos estar ocupando – não desde uma lógica da conquista, mas inspirados pela imagem de que somos fermento na sociedade? Se queremos ser sal e luz, e anunciar as boas novas de Jesus Cristo, precisamos efetivamente estar no mundo, alimentados pela esperança de que Deus em Cristo está reconciliando todas as coisas.

 

Apoio às comunidades da região Serrana do Rio de Janeiro

Por último, é motivo de lamento e choro olhar para esse início de ano e constatar o quanto sofrimento foi causado por catástrofes naturais – e potencializado pela negligência e pecado humanos. Enquanto ainda acompanhamos notícias a respeito dos desastres recentes no Japão – e nos unimos em oração por aqueles que lá sofrem -, nossas memórias parecem querer esquecer da destruição que as chuvas de janeiro trouxeram à região serrana, no Rio.

Poucos dias depois dos acontecimentos, vários abuenses da região do Rio de Janeiro se uniram às diversas organizações, igrejas, e equipes de socorro e assistência às áreas afetadas pelas enchentes e deslizamentos. Do recolhimento de donativos ao trabalho braçal, e do apoio articulação de grupos e pessoas à visita aos lugares afetados, esses estudantes – juntamente com muitos outros voluntários – decidiram abrir mão de parte de suas férias, de abandonar o conforto de suas casas, para estar em meio aqueles que sofrem as perdas de familiares, bens, sonhos.

Em meio a essa movimentação, a pró-Reitoria de Extensão da UFRJ convocou diversos grupos e coordenadores de projetos para mobilizar o apoio à região Serrana – e também aí estiveram presentes pessoas ligadas à ABUB.

O exemplo de jovens que decidem sujar as mãos e os pés e a busca do envolvimento da universidade com os problemas da sociedade em geral desafiam e subvertem o entendimento comum de que somos a ‘elite’ do país, e nos chama para a responsabilidade que o conhecimento e a formação adquiridas nos trazem, de forma que estas estejam à serviço da sociedade.

Disto, como perguntas para nossa constante reflexão, poderíamos formular as seguintes: de que forma nossa formação acadêmica e profissional pode contribuir para minimizar essas e tantas outras situações de sofrimento? Qual critério iremos usar nas escolhas profissionais e decisões que tomamos ao longo da vida? Oxalá o uso de nossas profissões e formações universitárias também seja motivado pelo profundo desejo de mudança e transformação na sociedade.

Continuemos orando pelos irmãos que sofrem, pelas famílias. E, quiçá, que nossa oração também nos leve a nos juntarmos ao serviço e apoio a estes.

***

Que este início de ano, por mais rápido que tenha passado, não deixe de nos deixar lições para os meses (e anos) seguintes.

Que busquemos cada vez mais viver e encarnar o campus, envolvendo-se com a universidade, engajando-se na sociedade em geral – e, assim fazendo, respondermos às palavras de Jesus, quando diz:

“Meu Pai é glorificado pelo fato de vocês darem muito fruto; e assim serão meus discípulos” (Jo 15.8, NVI)

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