Carta para Cris

Olá Cris! Como você está?

Já fazem alguns meses desde que lhe enviei minha última carta. Nela me detive em descrever pra você algumas das dimensões do plano secreto de Deus “de fazer convergir em Cristo todas as coisas, celestiais ou terrenas, na dispensação da plenitude dos tempos.” (Ef 1.10. Medite também em Gn 9 e Ap 21.23-27). Disse-lhe que Deus, além de nos dizer qual é o seu plano, nos chama para participar ativamente com ele na execução! (Ainda me espanto com essas descobertas. Graças a Deus!). Sugiro que você continue a meditar em 2 Co 5.17-19 e Rm 8.19-23.

Pelo que entendi de sua carta, compartilhar isso com você te impulsionou a se envolver nesse trabalho. Fiquei feliz em saber. Por isso julguei que seria bom lhe escrever novamente. Creio que você compreendeu que boa parte do plano secreto de Deus envolve a restauração de nossa verdadeira pessoalidade (sua e minha) e, a formação de um povo que pertence a ele e que vive em verdadeira comunhão.

E você está compreendendo que este será um trabalho árduo. Lembre-se que será, no mínimo, semelhante ao que você passa para cultivar seu jardim: requer seu esforço. Consome “seu” tempo. Solicita que você invista outros recursos. Exige, inclusive, a quebra do seu orgulho, pois você terá de solicitar a ajuda de outras pessoas (que bom!). Mas, lembrando-me do que vi, lhe pergunto: você se arrepende de tudo o que passou? Você deixaria de cultivá-lo? Deixaria, agora, de mantê-lo? Conhecendo você, sei que dirá seu costumeiro “de jeito nenhum!” para todas essas perguntas. Pois, que ambiente maravilhoso é o seu jardim! Cada espécie revela a sua beleza sem anular a beleza das outras.

Mas, se você quer participar da mesa da comunhão, você precisará trabalhar (2 Ts 3.10). Em Cristo e, com ele, o trabalho será arduamente prazeroso. É como disse o Bonhoeffer: encontrar a pessoa de Deus na impessoalidade do trabalho faz parte do que Paulo denomina “orar sem cessar”.

Digo essas coisas porque quero lembrar-lhe: ao se envolver com esse trabalho em específico, você está concordando com o compromisso de edificar “…uma comunidade de discípulos que, transformados pelo Evangelho, impactem o mundo estudantil, a igreja e a sociedade para a glória de Cristo”. A comunhão já existe em Deus, mas esta comunidade ainda não está pronta. Somos as pedras vivas (1 Pe 2.5). Somos também, os ajudantes do Pedreiro.

Por isso, Cris, trabalhe com os demais irmãos e irmãs que estão com você. Esforcem-se juntos, nas orações e nas diversas tarefas, para que vocês anunciem e expressem, dentro de cada instituição de ensino, de forma urgente e clara, aquilo que o Eugene Peterson disse: “…o tipo de vida no qual podemos crescer, a fim de nos auxiliar a fixar a visão naquilo que reflete o que é um ser humano completo”. Quando contemplo a Cristo, creio que nosso irmão disse uma verdade. Por isso, fixe a visão em Cristo e seja uma pessoa cheia do Espírito Santo!

Cris, chamo a sua atenção pra essas coisas porque, como já lhe disse, temos diante de nós alguns desafios provocados pelo determinismo científico; pela politização do que significa ser “pessoa”; pelo fascínio diante da tecnologia; pelo “desenvolvimento” insustentável e opressor e; pela ditadura da “tolerância” intolerante.

Tais desafios não apenas atingem nossas escolas e universidades. Alguns tiveram suas origens nesses ambientes, ora pelo excesso de racionalidade/objetividade, ora pelo excesso de irracionalidade/subjetividade. Assim, por seguirmos a Cristo, temos de ser um sonoro “Opa! Calma aí!” contra toda essa torrente caótica. A partir do que somos em Cristo e do que seremos nele, o que podemos fazer?

Vinoth Ramachandra me propôs duas ações e quero compartilhar, agora, apenas uma com você, pois o tempo é curto. Mas acredito também que a segunda ação será resultado (sobre)natural da primeira.

A primeira está relacionada com a formação de comunidades cristãs de aprendizado e testemunho – isso é algo que começamos a fazer. Mas essa comunidade precisa ser composta pelos diversos “atores” que compõe a comunidade escolar/universitária. Tal comunidade deve engajar-se, com coragem e disposição ao diálogo, nas diversas disciplinas acadêmicas e discussões que formam parte da vida escolar/universitária. Segundo ele, “isso requer tanto cruzar as hierarquias de status quanto não replicar nas universidades o que pode ser feito nas igrejas locais”.

Faço uma ressalva aqui. Isso não significa que, em nossos grupos, não deve haver espaço para louvor, cânticos, estudos bíblicos e orações. Muito pelo contrário! Pois tal comunidade dependerá exclusivamente de seu relacionamento com Deus. Mas será que a única forma de ser igreja, em nossas escolas e universidades, é simplesmente reproduzindo todo o modelo e todas as atividades de nossas igrejas denominacionais? Quando copiamos totalmente tais características, não estamos correndo o risco de restringir a vida missionária dessa comunidade de Cristo por falta de flexibilidade a outro contexto cultural?

No entanto, seja com um foco, seja com outro, precisamos nos envolver com a edificação da comunidade de Cristo, no poder do Espírito. Devemos nos lembrar que em Cristo “todo o corpo, ajustado e unido pelo auxílio de todas as juntas, cresce e edifica-se a si mesmo em amor, na medida em que cada parte realiza a sua função.” (Ef 4.16 – grifo meu)

 

Juntos na mesma fé, no mesmo amor

Juntos na mente e coração.

Temos em cada um, a mesma marca

O mesmo sangue, a mesma cruz.

Juntos somos um corpo em Cristo

Juntos, somos um corpo vivo.

Corpo que adora e que serve,

Corpo que chora e se alegra,

Corpo que parte e reparte

As cargas do irmão.

Cordas que foram partidas,

Podem de novo soar

Corpo onde a vida é mais vida

Vivendo em Jesus.

 

Eis aí algumas questões que lanço para orarmos juntos. Minha expectativa é que seu coração permaneça aquecido para participar da boa obra de Deus. Conforme a orientação que recebermos do Senhor, teremos trabalhos e tarefas para fazermos. Nele, unidos. Assim, pela oração e pelo trabalho, colaboraremos com seu plano secreto de fazer convergir em Cristo todas as coisas. Só a ele a glória! Amém

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